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Doença autoimune e alimentação: qual a relação?

Os efeitos de uma boa alimentação refletem em todo o nosso organismo, especialmente o sistema imunológico. Não é novidade que a alimentação exerce um papel importante na saúde como um todo, contribuindo não só na melhora de alguns quadros clínicos, como também na prevenção de doenças.

Neste texto, vamos falar sobre o papel da alimentação na melhora de doenças autoimunes, como vitiligo, psoríase e lúpus, na expectativa de ajudar no aumento da qualidade de vida do grupo de pessoas que convivem com esse problema. Vamos lá?

O que são doenças autoimunes?

Uma doença autoimune é aquela em que o sistema imune, ou algum componente dele, reage contra as substâncias do próprio organismo. Isso pode ocorrer por diversos motivos que nem sempre são esclarecidos. A reação começa quando as células da atividade imune confundem suas próprias proteínas com agentes invasores, dando início ao ataque. Os anticorpos que realizam essa ação são chamados de autoanticorpos e eles podem danificar várias partes do corpo, como pulmões, rins, sistema nervoso central ou periférico.

 A maior parte desse tipo de doença é crônica, ou seja, possui uma evolução lenta, tem duração longa e, muitas vezes, acompanha a pessoa pela vida toda, fazendo-se necessário o uso contínuo de medicamentos. Porém, é importante dizer que existem algumas doenças autoimunes que aparecem e desaparecem inexplicavelmente. 

Infelizmente, ainda não se conhece, com certeza, maneiras de prevenir o surgimento de uma doença autoimune, porém, fazendo o acompanhamento certinho e seguindo todas as recomendações médicas, é possível, em grande parte dos casos, conviver com a doença promovendo mais qualidade de vida. 

A gravidade dos casos depende dos órgãos afetados. Um exemplo que podemos citar é o da tireoidite de Hashimoto, restrita à glândula tireoide, um órgão importante, mas não vital. Pacientes com essa enfermidade podem levar uma vida normal apenas tomando um comprimido por dia. Já quando a doença autoimune ataca órgãos e estruturas essenciais para o bom funcionamento do corpo, como o coração, pulmões, vasos sanguíneos ou o sistema nervoso central, ela pode desenvolver quadros clínicos mais graves, é o caso da esclerose múltipla.

As principais doenças autoimunes

Abaixo, conheça as principais doenças autoimunes!

Vitiligo

corre a produção inapropriada de anticorpos e linfócitos T (um tipo de glóbulo branco) contra as células responsáveis pela formação de pigmento de nossa pele, os melanócitos.

Esclerose Múltipla

Quando o sistema imune corrompe a cobertura protetora de nervos. Os sintomas são progressivos, resultando em fraqueza muscular, cansaço excessivo, formigamento nos braços ou pernas etc.

Psoríase

Surge devido a acelerada reprodução das células da pele, resultando na inflamação e descamação da pele. Manchas vermelhas com escamas secas esbranquiçadas ou prateadas podem surgir, além de coceira, queimação, dor, ressecamento e rachaduras.

Lúpus

Condição na qual as células de defesa atacam, por engano, os tecidos saudáveis do próprio corpo. Podem aparecer sintomas como manchas na pele, sensibilidade ao sol, queda de cabelo e inchaços nas articulações.

Diabetes tipo 1

Essa doença crônica é caracterizada quando o pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina. Os sintomas são: muita sede, fome excessiva, vontade frequente de urinar e perda de peso.

Doenças autoimunes e mulheres

Estudos identificaram que esse tipo de doença acomete mais mulheres que homens, podendo chegar a 80% dos casos.

Em 2018, a revista “Sciente Signaling” (1) apontou que esse dado está relacionado ao fato de que a ação do estrogênio pode levar o sistema imunológico a atacar o próprio organismo, resultando em uma doença autoimune. Outros estudos já apontavam que esse hormônio pode contribuir para tais doenças. 

Outras possíveis causas das doenças autoimunes

Ainda não é tão claro o que pode, de fato, causar esse tipo de doença, mas já é possível citar alguns fatores desencadeantes:

– Vírus;

– Medicamentos;

– Radiação;

– Bactérias;

– Liberação de alguma substância que se encontra em uma área específica do organismo na corrente sanguínea;

– Causas hereditárias;

– Infecção ou lesão.

Intestino e doenças autoimunes

Um estudo publicado na revista científica Science (2), realizado pela Universidade de Yale, relacionou reações autoimunes a uma bactéria específica, a Enterococcus gallinarum. Esse estudo diz que, quando a bactéria migra do intestino para outros órgãos, como os gânglios linfáticos, o fígado e o baço, resulta em uma reação autoimune. 

Um intestino saudável consegue realizar bem o seu trabalho de conexão entre as células na obtenção e distribuição de nutrientes importantes para o corpo.

Quando não adotamos medidas saudáveis na alimentação, o intestino pode ser comprometido, lesionando a parede intestinal e permitindo a passagem de substâncias que podem ser nocivas ao organismo. Então, uma boa nutrição pode nos ajudar a manter bactérias boas no organismo e a diminuir o risco de desenvolvimento de doenças autoimunes. Sendo assim, agora vamos abordar os nutrientes que podem auxiliar no controle dos sintomas desse tipo de doença! 

O papel dos nutrientes nas doenças autoimunes

Vitamina D – uma grande aliada nesta luta! 

Essencial para a manutenção da saúde óssea, a vitamina D interage com diversas hormonas que trabalham na regulação do cálcio e do fósforo no sangue e nos ossos. Além disso, essa vitamina, que obtemos, em maior parte, a partir da exposição solar, pode apresentar efeitos imunomoduladores sobre as células do nosso sistema imunológico, principalmente nos linfócitos T, além da produção e ação de diversas citocinas. Estudos têm associado a deficiência de vitamina D com doenças autoimunes, como diabetes tipo 1, esclerose múltipla, doença inflamatória intestinal, lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatóide. 

Por isso, sugere-se que, além de auxiliar no tratamento desse tipo de doença, a vitamina D possa atuar na prevenção do desenvolvimento delas. Porém, ainda é necessário a realização de mais estudos para poder comprovar essa informação. De qualquer maneira, as evidências mostram que a vitamina D é, sim, essencial para a regulação do sistema imunológico.

Zinco

O zinco é outro nutriente muito importante para que o sistema imunológico exerça uma função saudável. Quando presente em níveis adequados, ele ajuda na sustentação do timo (órgão que auxilia no amadurecimento das células de defesa do organismo) e na formação de células T auxiliares, vitais para toda a coordenação do sistema. A baixa de zinco no organismo pode resultar em atrofia do timo, levando a uma série de processos que contribuem para o desequilíbrio do sistema imunitário, gerando inflamações crônicas e doenças autoimunes.

Onde encontrar zinco: ostras, amendoim, gema de ovo, fígado, feijão de soja cozido e outros.

Glutationa

Estamos falando simplesmente do antioxidante mais poderoso do corpo humano, que, além de exercer sua própria ação, também pode regular outros antioxidantes no corpo. Essa substância é essencial para uma desintoxicação saudável e para a diminuição considerável da inflamação, um fator que pode agravar doenças autoimunes. Além disso, a glutationa também desempenha um papel importante no funcionamento das células brancas do sangue e na regulação do sistema imunológico. Estudos apontam baixa concentração de glutationa em pessoas com artrite reumatóide e lúpus sistêmico, sugerindo que ela pode ter um papel no desenvolvimento da autoimunidade. 

Onde encontrar glutationa: cebola, repolho, abacate, abóbora, quiabo, morango, melão, laranja, pêssego, couve-flor e outros.

Ácidos graxos ômega 3 

Uma das características de doenças autoimunes é o desequilíbrio de ácidos graxos no corpo: em relação ao ômega 6, o ômega 3 encontra-se em nível reduzido. Portanto, é importante que seja ingerida a quantidade correta desse nutriente para que se estabeleça uma relação equilibrada com o corpo.

Em uma pesquisa realizada em pacientes com artrite reumatoide (3), mantidos em tratamento com anti-inflamatórios não esteroides e submetidos  a intervenções com  peixe e  óleo de linhaça  em forma líquida ou em cápsulas, com doses que variaram de 1,7 a 9,6 g, com duração de até 15 meses, apontou, em  3 meses  de estudo,  que a  suplementação melhorou o quadro de dor dos pacientes comparado com o grupo placebo.

Onde encontrar ômega 3: linhaça, peixes (salmão, atum, sardinha), óleos vegetais, castanhas e sementes.

Probióticos

Os probióticos são importantes no tratamento de doenças autoimunes, já que é bem comum pacientes diagnosticados apresentarem algum tipo de desequilíbrio bacteriano no intestino. Lembra que já falamos um pouco sobre a relação da nutrição com o intestino por aqui? Desse modo, entendemos que a chave para ter um trato digestivo saudável e função imunológica adequada é manter o equilíbrio bacteriano.

Um estudo publicado pelo Brazilian Journal of Health Review (4) reuniu evidências sobre a eficácia terapêutica do uso de bactérias probióticas no tratamento de doenças autoimunes do sistema gastrointestinal, como a celíaca, apresentando benefícios na alteração da microbiota intestinal e na redução da inflamação. Em pessoas com doença intestinal inflamatória, o mesmo estudo sugere que a ingestão de probióticos também apresenta benefícios nos aspectos clínicos e na redução da inflamação em pacientes com colite ulcerativa.  

Onde encontrar probióticos: iogurte, kefir, kombucha, chucrute.

Como pudemos ver, esse é um assunto extenso e, muitas vezes, complexo. Sabemos que o texto ficou longo, mas buscamos trazer informações realmente relevantes sobre o tema para deixar claro o quanto a alimentação exerce papel importante quando o assunto são doenças autoimunes. Porém, é essencial deixar claro que somente ela não é capaz de evitar ou tratar esse tipo de doença. Por isso, realizar consultas regularmente e seguir todas as orientações médicas é indispensável nessa pauta.

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